terça-feira, 10 de novembro de 2009

("O bom cineasta já começa a dirigir quando põe palavras no papel." Joseph Mankiewicz) Talvez muitas pessoas ainda não saibam, mas foi em terras capixabas que nasceu e cresceu o Marlin Azul. Sem exagero, o instituto é hoje uma das mais importantes organizações do Terceiro Setor do Brasil na área de democratização do acesso à linguagem audiovisual. Criado em 1999, o Marlin Azul tem no seu currículo, por exemplo, o 'Vitória Cine Vídeo' - festival que é reconhecido como um dos principais do circuito nacional de cinema; o 'Projeto Animação', que é desenvolvido com 150 alunos das escolas públicas de Vitória e tem sua película de 15 minutos apresentada no Festivalzinho, durante o 'Vitória Cine Vídeo'; o 'Anima Azul', criado da demanda dos jovens que passaram pelo 'Projeto Animação' e estavam em busca de mais conhecimento; e o propalado 'Revelando os Brasis', projeto realizado em parceria com a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, que tem como objetivo promover a inclusão e formação de audiovisuais por meio do estímulo à produção de vídeos digitais.Nos bastidores de toda essa vasta produção cultural estão duas parceiras: Beatriz Lindenberg e Lúcia Caus Delbone. A dupla se conheceu durante a produção do curtametragem 'Flora' (1995) e a partir daí mergulhou no universo audiovisual da produção cinematográfica brasileira. A criação do Marlin Azul aconteceu logo depois que as parceiras perceberam que o 'Vitória Cine Vídeo' passou a ganhar importância e exigir investimentos para desenvolvimento de novos projetos. "Precisávamos ter uma personalidade jurídica para gerenciar os novos projetos. Entendemos que a natureza de nosso trabalho estava mais afinada com a proposta de uma organização não-governamental, por isso fundamos o IMA", explica Beatriz.Embora trate os projetos como filhos, com imparcialidade, jure amor incondicional e irrestrito a cada um deles sem demonstrar que puxe sardinha para um ou outro, está na cara que o 'Revelando os Brasis' - que entra este ano na sua terceira edição - pela sua dimensão e repercussão, é um dos principais projetos do Instituto.O projeto, que mobiliza a equipe do IMA praticamente durante todo o ano, do primeiro ano para cá já ganhou novos contornos desde a sua primeira versão e hoje não sai por menos R$ 2 milhões para ser realizado. O Instituto teve fôlego e determinação e utilizou as leis de incentivo à cultura para captar recursos para os novos projetos que foram incorporados pelo caminho.Rico ou pobre, analfabeto ou doutor, para ajudar a revelar os Brasis basta ter 18 anos completos, morar em uma cidade de até 20 mil habitantes e ter uma boa história para contar. As inscrições, lembra Beatriz, se encerram no dia 28 de março. Um júri vai selecionar as 40 melhores histórias que serão transformadas em vídeos com duração de 15 minutos pelos seus próprios realizadores. Podem ser inscritas histórias reais (baseadas em fatos históricos, personagens e tradições populares) ou de ficção. Nas duas primeiras edições do projeto, entre 2004 e 2006, foram produzidas 80 obras em todas as regiões do Brasil, entre ficções e documentários. Depois de finalizados, os vídeos são apresentados em suas comunidades através do Circuito Nacional de Exibição, que leva uma tela de cinema para os municípios. As produções também são exibidas no Programa Revelando os Brasis, que vai ao ar pelo Canal Futura. A partir de 2008, os vídeos do projeto serão lançados em DVD com distribuição gratuita entre organizações sociais e culturais, bibliotecas, universidades e cineclubes de todo o Brasil.Na primeira edição do projeto o Espírito Santo emplacou os seguintes vídeos: "Bate-Paus", de Jorge Jacob (morador de Vila Pavão); "Brilhantino", de Ériton Berçaco (Muqui); "O Sonho de Loreno", de Alana Almondes (Mantenópolis); e "O Último Tocador", de Valbert Vago (São Roque do Canaã). Na segunda edição, a história que se transformou em vídeo foi "Experiências e Inventos Pepino", de José Rivelino Guimarães (Venda Nova do Imigrante). Século Diário: - Como começou esse trabalho com cinema?
Beatriz Lindenberg: - Eu comecei produzindo curtas-metragens quando ainda estava terminando o curso de jornalismo na Ufes. Logo em seguida fui convidada para produzir o filme 'Flora' (curta-metragem de Marcel Cordeiro, 1995), protagonizado pelo ator Selton Mello. Foi quando iniciei o trabalho com Lúcia Caus Delbone, que já fazia parte da produção de 'Flora'. Dessa época para cá, estamos trabalhando em todos esses projetos. Esse filme correu o circuito de diversos festivais de cinema. No festival de Recife começou a ser criado o primeiro fórum de organizadores de festivais de cinema. Eu e Lúcia éramos as únicas representantes do Espírito Santo nestes festivais. Nós voltamos para cá com a missão de informar aos organizadores do Vitória Cine Vídeo - que já existia, mas tinha um formato diferente ao de hoje - que esse fórum estava se formando. Nesse período a prefeitura de Vitória, que era uma das patrocinadoras do Cine Vídeo, abriu um edital com o objetivo de reformular o festival. Nossa proposta foi escolhida pela prefeitura. Desde então, o Vitória Cine Vídeo, a partir de sua terceira edição, passa a se dedicar ao cinema brasileiro e à formação de realizadores capixabas.- Como era o festival antes dessa reformulação?- O Vitória Cine Vídeo era um festival que apresentava lançamentos brasileiros de longa metragem e a cada ano se dedicava a uma cinematografia de determinada região do mundo. O festival nessa época acontecia somente no Cine Metrópolis. Com a nossa proposta o público do festival é ampliado. Além do Cine Metrópolis, os filmes passam a ser exibidos no Teatro Glória - que é um espaço que comporta mais de mil pessoas - e também nos circuitos de exibição dos bairros. Um outro diferencial deste novo formato é o projeto de formação, que não ocorre somente na época do festival. Nós promovemos oficinas de animação, concursos de roteiro, crítica etc. O Vitória Cine Vídeo se solidificou nacionalmente principalmente por esse estímulo à formação do jovem realizador. No festival, embora a participação seja bastante ampla, predomina o perfil jovem. Em média, são mais de 100 curtas de jovens diretores que apresentam um panorama da produção brasileira e, sobretudo, a capixaba que ao longo desse tempo também vem se consolidando como uma produção que representa o Estado. Esse fortalecimento das regionalidades já é uma tendência do festival há algum tempo. Há mais de 10 anos, quando começamos a fazer o Vitória Cine Vídeo, o cinema brasileiro ainda sofria um alto grau de preconceito. As produções dificilmente chegavam a Vitória. Lamentavelmente, até hoje, a entrada de filmes brasileiros no circuito ainda é bastante restrita. Chegam a Vitória as produções nacionais de maior público, muitas vezes de qualidade, porém mais comerciais. Nós ainda não temos em Vitória cinemas que estejam dispostos a dar espaço a filmes de grande qualidade. Isso é exatamente o que nós tentamos fazer no Vitória Cine Vídeo, exibir filmes de qualidade independentemente de ser esses 'blockbusters' brasileiros. De certa maneira, ficamos o tempo todo procurando essas brechas na cidade pensando o que podemos trazer para Vitória que colabore com esse nosso objetivo fundamental que é promover a formação, apresentar a qualidade da produção em toda sua diversidade.Beatriz Lindenberg: - Eu comecei produzindo curtas-metragens quando ainda estava terminando o curso de jornalismo na Ufes. Logo em seguida fui convidada para produzir o filme 'Flora' (curta-metragem de Marcel Cordeiro, 1995), protagonizado pelo ator Selton Mello. Foi quando iniciei o trabalho com Lúcia Caus Delbone, que já fazia parte da produção de 'Flora'. Dessa época para cá, estamos trabalhando em todos esses projetos. Esse filme correu o circuito de diversos festivais de cinema. No festival de Recife começou a ser criado o primeiro fórum de organizadores de festivais de cinema. Eu e Lúcia éramos as únicas representantes do Espírito Santo nestes festivais. Nós voltamos para cá com a missão de informar aos organizadores do Vitória Cine Vídeo - que já existia, mas tinha um formato diferente ao de hoje - que esse fórum estava se formando. Nesse período a prefeitura de Vitória, que era uma das patrocinadoras do Cine Vídeo, abriu um edital com o objetivo de reformular o festival. Nossa proposta foi escolhida pela prefeitura. Desde então, o Vitória Cine Vídeo, a partir de sua terceira edição, passa a se dedicar ao cinema brasileiro e à formação de realizadores capixabas.- Como era o festival antes dessa reformulação?- O Vitória Cine Vídeo era um festival que apresentava lançamentos brasileiros de longa metragem e a cada ano se dedicava a uma cinematografia de determinada região do mundo. O festival nessa época acontecia somente no Cine Metrópolis. Com a nossa proposta o público do festival é ampliado. Além do Cine Metrópolis, os filmes passam a ser exibidos no Teatro Glória - que é um espaço que comporta mais de mil pessoas - e também nos circuitos de exibição dos bairros. Um outro diferencial deste novo formato é o projeto de formação, que não ocorre somente na época do festival. Nós promovemos oficinas de animação, concursos de roteiro, crítica etc. O Vitória Cine Vídeo se solidificou nacionalmente principalmente por esse estímulo à formação do jovem realizador. No festival, embora a participação seja bastante ampla, predomina o perfil jovem. Em média, são mais de 100 curtas de jovens diretores que apresentam um panorama da produção brasileira e, sobretudo, a capixaba que ao longo desse tempo também vem se consolidando como uma produção que representa o Estado. Esse fortalecimento das regionalidades já é uma tendência do festival há algum tempo. Há mais de 10 anos, quando começamos a fazer o Vitória Cine Vídeo, o cinema brasileiro ainda sofria um alto grau de preconceito. As produções dificilmente chegavam a Vitória. Lamentavelmente, até hoje, a entrada de filmes brasileiros no circuito ainda é bastante restrita. Chegam a Vitória as produções nacionais de maior público, muitas vezes de qualidade, porém mais comerciais. Nós ainda não temos em Vitória cinemas que estejam dispostos a dar espaço a filmes de grande qualidade. Isso é exatamente o que nós tentamos fazer no Vitória Cine Vídeo, exibir filmes de qualidade independentemente de ser esses 'blockbusters' brasileiros. De certa maneira, ficamos o tempo todo procurando essas brechas na cidade pensando o que podemos trazer para Vitória que colabore com esse nosso objetivo fundamental que é promover a formação, apresentar a qualidade da produção em toda sua diversidade.

Essa presença mais maciça de jovens tem alguma explicação?- Na medida em que os editais publicados possibilitaram a democratização da produção, isso acabou sendo um importante incentivo para todos aqueles jovens que estavam a fim de fazer cinema. Quando eu digo jovens não estou me referindo somente à questão etária, mas a todas as pessoas que estão experimentando essa linguagem pela primeira vez. São pessoas que por alguma razão nunca tiveram oportunidade de transformar suas histórias em filmes ou vídeos. As novas tecnologias têm contribuído para o barateamento das produções sem perda da qualidade. Isso também passou a ser um importante estímulo. Acho que uma das coisas que o Vitória Cine Vídeo faz é botar essa 'pilha' nas pessoas, para que desperte esse desejo de fazer um vídeo ou um filme. Embora muito modestamente, porque o festival acontece só uma vez por ano, ele dá essa possibilidade para as pessoas buscarem informações, estratégias para realização de seus trabalhos. Nesse período em que acontece o festival, nós realizamos oficinas de iniciação cinematográfica para quem está interessado em começar a colocar a mão na massa. A cada ano procuramos dar esse pontapé inicial para estimular as pessoas que estejam a fim de trabalhar com cinema. - Quando o Marlin Azul aparece nessa história?- O Marlin Azul surgiu em 1999, exatamente da necessidade de se instituir uma pessoa jurídica para gerenciar o Vitória Cine Vídeo, que era nosso projeto mais importante. Era preciso também fazer uso das leis de incentivo à cultura para captar recursos para nossos projetos. Entretanto, antes de fundarmos o Instituto Marlin Azul (IMA) já havíamos criado a empresa Galpão Produções, que chegou a produzir alguns curtas. Depois, entendemos que a natureza de nosso trabalho estava mais afinada com a proposta de uma organização não-governamental. Foi então que montamos o IMA, que hoje está classificado como Oscip (Organização da sociedade civil de interesse público).- Quais são os principais objetivos do IMA?- Um dos principais objetivos do Marlin Azul é democratizar o acesso à linguagem audiovisual a partir da promoção de festivais de cinema e desenvolvimento de projetos dirigidos a todas as idades. Dentro desta proposta, que é bastante ampla, temos desde projetos que poderíamos definir como uma espécie de alfabetização audiovisual, como é o caso do 'Projeto Animação', que fazemos em quatro escolas de ensino fundamental da rede pública de Vitória, envolvendo cerca de 150 crianças com idade entre nove e 14 anos. Esses alunos recebem capacitação em oficinas de roteiro e de animação e no final do ano produzem um filme de animação em 35mm. Esses filmes são apresentados no Vitória Cine Vídeo. A trilha sonora desses curtas são feitas em parceria com outros jovens de projetos sociais que ficam encarregados de criar e executar essa trilha que é apresentada ao vivo durante a exibição dos filmes. Essa foi uma idéia inovadora que deu muito certo e chegou a emocionar o público na primeira apresentação que fizemos. Na verdade, um projeto vai abrindo portas para o outro.

Ursula Dart

Com muita sensibilidade, o terceiro filme da diretora capixaba fala de uma problemática vivida pelo universo infantil contemporâneo.
Espaços cada vez menores e as restrições cada vez maiores para a sociabilidade infantil nos espaços públicos. Esse tema é tratado no filme “Meninos”, da diretora Ursula Dart. O curta metragem, que está em fase de finalização, conta a história de João Gabriel. O personagem é um garoto de 9 anos que vive com sua mãe numa casa na periferia da Grande Vitória.Ao mostrar os solitários momentos de brincadeiras do garoto, seu jeito de interpretar a realidade, a câmera do filme constrói a narrativa psicológica de João Gabriel. “Queríamos uma 'roupa' de cine direto, deixando uma sensação de que a câmera não estava lá, e o resultado é bem satisfatório”, explica a diretora.
A segurança pede gradesO documentário trata das dificuldades vividas pela infância contemporânea. Ainda segundo Ursula, as crianças estão cada vez mais isoladas do convívio social em nome da desejada segurança dos grandes centros. “Isolado, Joao Gabriel cria seu próprio universo assim como o fazem todas as crianças. Porém, no caso deste personagem, o elemento arquitetônico da grade é uma presença constante. Ainda que brinque no hall, na sala ou no seu quarto, ela estará ali sempre presente, enquadrada”, conta a diretora.Participam do filme alunos da rede de educação de Vitória. Trechos de algumas entrevistas feitas durante a seleção são usados na abertura do curta. A previsão é de que a produção esteja finalizada em setembro.A diretoraEsse é o terceiro trabalho como diretora de Ursula. Anteriormente ela co-dirigiu, ao lado de Virginia, Lizandro Nunes e Luciana Gama, o documentário “Na Parede, Na Toalha, No Lençol” (1999) e mais tarde foi a vez de “Convento da Penha 450 anos: fé, história e identidade do Espírito Santo” (2008), outra co-direção com Ana Murta. Além disso, Ursula atou como diretora de fotografia, assistente de direção e produção executiva de diversas produções audiovisuais recentes no Espírito Santo.O filme Meninos conta com a direção de fotografia de Alexandre Ramos, do Rio de Janeiro, a direção de produção foi feita por Bob Redins e a produção executiva é da própria Ursula Dart. A edição está sendo feita por Lizandro Nunes.